Sexta-feira, 24 de Junho de 2016

QUANDO ME TORNEI INVISÍVEL

Encontrei este belo texto que quero que vocês leiam com atenção

QUANDO ME TORNEI INVISÍVEL

 “Não, deveríamos envelhecer, quando chegássemos aos 50/60 anos a gente dormia para nunca mais acordar neste planeta, para não sermos humilhados quando mais precisamos de atenção, compreensão e carinho...

Já não sei em que data estamos, nesta casa não há folhinhas, e na minha memória tudo está revolto. As coisas antigas foram desaparecendo. E eu também fui apagando sem que ninguém se desse conta.
Quando a família cresceu, trocaram-me de quarto. Depois, passaram-me para outro menor ainda acompanhada das minhas netas, agora ocupo o anexo, no quintal de trás.
Prometeram-me mudar o vidro partido da janela, mas esqueceram-se. E nas noites, que por ali sopra um ventinho gelado, aumentam mais as minhas dores reumáticas.

Um dia à tarde dei conta que a minha voz desapareceu. Quando falo, os meus filhos e netos não me respondem. Conversam sem olhar para mim, como se eu não estivesse com eles. Às vezes digo algo, acreditando que apreciarão os meus conselhos, mas não me olham, nem me respondem, então retiro-me para o meu canto, antes de terminar a caneca de café. Faço isso para que compreendam que estou triste e para que me venham procurar e me peçam perdão...Mas ninguém vem. No dia seguinte disse-lhes:
- Quando eu morrer, então sim vocês irão sentir a minha falta. E meu neto perguntou:
- Estás viva vovó? (rindo)
Estive três dias a chorar no meu quarto, até que numa certa manhã, um dos netos entrou para guardar umas coisas velhas. Nem bom dia me deu, foi então que me convenci de que sou invisível.
Uma vez os netos vieram dizer-me que iríamos passear ao campo. Fiquei muito feliz, fazia tanto tempo que não saía!

Fui a primeira a levantar, quis arrumar as coisas com calma, afinal nós velhos, somos mais lentos, assim arranjei-me a tempo de não atrasá-los. Em pouco tempo, todos entravam e saíam correndo pela casa, atirando bolas e brinquedos para o carro.
Eu já estava pronta e muito alegre, parei na porta e fiquei à espera. Quando se foram embora, compreendi que eu não estava convidada, talvez porque não cabia no carro. Senti que o coração encolhia e o queixo tremia, como alguém que tinha vontade de chorar. Eu os entendo, são jovens, riem, sonham, se abraçam, se beijam e eu e eu.... Antes beijava os meus netos, adorava tê-los nos braços, como se fossem meus. E até cantava canções de embalar que tinha esquecido. Mas um dia...

Um dia a minha neta que acabava de ter um bebé me disse que não era bom que os velhos beijassem os bebés por questões de saúde. Desde então, não me aproximo mais deles, tenho tanto medo de contagia-los! Eu não tenho mágoa deles, eu perdoo a todos, porque que culpa têm eles, de que eu tenha-me tornado invisível?
Abraços e Paz!”

Texto original sem copyright - "El dia que me volvi invisible"
Autora - Silvia Castillejon Peral - Cidade do México – 2002

              Nelson Camacho D’Magoito

             “Textos para repensar” (294)

                 Para todas as idades

                 © Nelson Camacho
2016 (ao abrigo do código do direito de autor)

Estou com uma pica dos diabos: Triste
publicado por nelson camacho às 22:46
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