Quarta-feira, 3 de Dezembro de 2014

Os Motas – I Capitulo

Os Motas eram uma das famílias mais felizes lá do complexo habitacional. O Mota era engenheiro. D. Isabel, sua mulher, era médica. Deste casal Há vinte anos tinha nascido um filho, o Luís que tinha enveredado também pela área de engenharia, trabalhando na empresa do Pai. Os Motas eram uma família bem conceituada na sociedade. Frequentadores do Teatro Nacional de São Carlos e do D. Maria e de festas de glamour. Luís não saía destes parâmetros e não era muito frequentador de bares nocturnos ou discotecas. Nas noites de ócio entretinha-se em casa de amigos da mesma condição social.

Um dia nos escritórios do Mota entrou a pedido de um amigo, um moço que tinha acabado o curso de desenhista técnico como estagiário.

O Jorge, - o tal desenhista – passado algum tempo e depois de demostrar ser um bom profissional, começou a ir almoçar com os colegas de trabalho até que um dia para festejarem um contrato bem chorudo, o Mota convidou todos os colaboradores inclusive o Jorge, para um jantar em sua casa.

Naquela noite em casa dos Motas, estavam todos presentes, inclusive um amigo de infância do Luís.

Tratando-se de um casal da elite e porque D. Isabel não era muito atreita a taxos e panelas, encomendou o serviço a uma empresa de catering.

Como não podia deixar de ser e como era muita gente para uma sala de jantar, o serviço foi feito como um jantar volante. Primeiro as bebidas de recepção, depois os aperitivos e mais tarde a refeição.

Entre os empregados que deambulavam nas suas tarefas, havia um que servia mais vezes o Jorge. Coisa que ninguém notava a não ser o amigo do Luís que a certa altura lhe disse em termos de confidência:

 

- Conheces bem o teu colega lá do escritório?

- Quem? – Perguntou Luís admirado.

- Parece-me que o gajo conhece bem aquele empregado do catering

- Porquê? – Ainda mais admirado o Luís.

- O gajo não deixa de o servir mais vezes que a outras pessoas quaisquer e quando estão juntos, noto qualquer coisa comprometedora entre eles.

- Não ainda não notei!.. Se calhar conhecem-se.

- Pois!... Também acreditas no Pai Natal. Repara bem nos sorrisos que eles fazem um ao outro.

- Epá|.. Já estás para ai a inventar coisas, mas vou estar mais atento.

 

Luís ficou como se costuma dizer “com a pulga atrás da orelha” e começou a ficar mais atento,

Quando tudo acabou Luís foi com o Pai para pagar o serviço ao chefe da equipa que estava de conversa com o tal empregado e ouviu o dito dizer ao chefe que tinha boleia e não precisava do seu transporte.

Depois de tudo arrumado e as contas feitas. Já todos os colegas da empresa do Mota se tinham ido embora, menos o Jorge, que ainda se encontrava a um canto bebericando a última bebida.

Quando foi a vez do pessoal do catering sair, Luís notou que o Jorge também saía e como não quer a coisa, segui-o até ao jardim e viu o tal empregado entrar no carro do Jorge, cumprimentando-se com um gesto bastante afectuoso, e abalarem…

No dia seguinte

 

Como viviam numa casa tipo apalaçada, tinham duas salas de refeições. Uma para a refeições principais e para as festas, com uma antecâmara a que chamavam o comedouro onde era servido os aperitivos em dia de convidados e em dias normais servia para o pequeno-almoço.  

De manhã como era hábito todos se levantaram à mesma hora e se juntaram no comedouro para a primeira refeição.

Mal se sentaram entrou o chauffeur informando que o carro já estava pronto.

 

- Bom Dia senhor Carlos! Hoje só vai levar minha mãe para o consultório. O meu Pai vai comigo – Informou o Luís -.

- Vais-me dar boleia? – Perguntou o Pai muito admirado -

- Vou!.. Quero conversar consigo pelo caminho numa conversa de “pé de orelha”

- Não me digas que tens segredinhos que não podem ser ditos no escritório? É algo relacionado com a festa de ontem? – Perguntou D. Isabel. Mas não obteve resposta.

 

No caminho para o escritório o Mota, expectante perguntou:

 

- Ontem houve alguma coisa que não gostasses?

- Não… Pai!.. Correu tudo hás mil maravilhas. Só gostava de saber quem te indicou o Jorge para nosso empregado.

- Foi um amigo de há muitos anos e que já não via há tempos. Sabendo que era proprietário de uma empresa de consultoria de engenharia, veio até mim com o pedido de dar emprego a este amigo que ao que parece é amigo de um outro amigo dele e trata-o por afilhado.

- Que grande confusão!... E esse teu amigo que já não vias há muitos anos quem é?

- É um tipo que é empresário e que foi meu colega no liceu. Depois seguimos caminhos diferentes, Eu casei e ao que parece ele continua solteiro. Como tal pouco nos damos.

- Mas por ele ser solteiro? Tens algo contra os solteiros?

- Não é isso!... Desde a festa de fim de curso do liceu que nos separamos e cada um segui-o a sua vida. De-tempos-a-tempos encontramo-nos nos tribunais. Mas a que propósito vem estas perguntas todas?

- Ontem vi um empregado do catering quanto tudo acabou, sair no carro do Jorge. Achei estranho e pensei que houvesse algum conflito de interesses na contratação daquela empresa.

- Mas foi a tua mãe que fez o contrato e nem conhecia o Jorge. Mas afinal porque tanta preocupação?

- Pai!... Não há preocupação alguma. A propósito!... Tens alguma coisa contra os homossexuais?

- Porra!... Desta vez deixaste-me baralhado! Mas que raio de pergunta!...

 

Já tinham entrado na garagem do escritório e Luís só espondeu enquanto arrumava o carro:

 

- Não é nada de especial. São coisas da minha cabeça. Vamos mas é trabalhar.

 

No Escritório

 

O Mota não deixava de pensar nas perguntas que o filho lhe tinha feito e começou a observar melhor o Jorge. Não só no seu trabalho como nas suas atitudes. Da parte da tarde chamou o filho ao seu gabinete e quando ele entrou, mandou-o fechar a porta.

 

- Depois das perguntas que me fizeste hoje de manhã tenho andado com olho no Jorge.

- E então?...

- Acho que o rapaz tem qualquer coisa de esquisito.

- Como assim?...

- Tenho verificado que tem uns modos um pouco esquisitos.

- Mas esquisitos como?

- Um pouco amaneirados e apanhei-o ao telefone a dizer “ontem disse-te onde trabalhava, não te esqueças que saio às sei horas”.

- Quer dizer que estava a informar alguém a que hora saía! E depois?

- Não seria com o tal gajo do catering? Não me digas que o tipo é Gay!...

- E depois tens alguma coisa com isso?

- Tu é que me alertas-te para o caso.

- Mas eu só queria saber quem to tinha recomendado. Nada mais! Tens alguma coisa contra os Gays?

- Não sou contra nem a favor, mas não quero conviver com eles e na nossa empresa não quero cá disso.

- Pái!.. Isso é seres homofóbico e racista e se o rapaz for gay não o podes despedir.

- Isso é cá comigo. Não há lei que me obrigue a conviver com tipos desses.

- Não estás a por a carroça à frente dos bois? E se tivesses um filho Gay? Como era?

- Livre-nos Deus dessas coisas. Felizmente que só te tenho a ti.

- Bem!... Já estive a falar melhor…. Se era só isso que queria, vou trabalhar… - I saiu porta fora -.

 

Ao Jantar

 

Com a família reunida e depois de uma conversa de circunstância, o Mota puxou a conversa para o tema que tinha sido abordado com o filho, no carro e no escritório. Dª Isabel ouvi-o atentamente e comentou:

 

- E depois? O que que tens a ver com isso?

- Tu como médica não achas que esses gajos são doentes? Não será uma aberração? O homem foi feito para procriar e não para andarem uns com os outros.

- Ó homem… Não digas disparates. Eles não deixam de sere homens. Têm uma pila como a tua, choram, são amigos e amam. Só têm uma forma de amar sexualmente diferente. Pois fica sabendo que tenho muitos como clientes e alguns até são casados como nós.

- Pois!... Pois mas lá no escritório não quero disso.

- Sabes Mãe… Que o pai chegou a comentar que se descobrisse que o rapaz era homossexual que o despedia.

- O teu Pai é mas é parvo… Ia-se meter numa alhada que nem sonha.

- Sabes que o Pai chegou a dizer que se tivesse um filho Gay que corria com ele de casa.

- Mas que conversa tão sem propósito para um jantar… Vocês deviam ver o que se passa nos hospitais com situações dessas. Começa logo por os homossexuais quando admitem que o são e não poderem ser dadores de sangue, é um trauma bastante grave para eles. Já tenho passado por cima da lei e quando são pessoas saudáveis não menciono as suas tendências sexuais nos relatórios. É uma questão de princípios pois eles são homens como outros quaisquer. É uma lei sem qualquer cabimento científico. Quando de trata de lésbicas, ninguém lhes pergunta a sua tendência sexual ou se for um homem casado que possa ser heterossexual, basta dizer que é casado para mais ninguém lhes fazer perguntas sobre a forma como vivem sexualmente. Nos hospitais já tenho observado situações muito confrangedoras, por exemplo: - Quando há acidentes graves de homossexuais e têm namorados, há Pais que não deixam os seus namorados os visitarem nas enfermarias. Há situações psicológicas e morais e bastante graves quando isso acontece. Felizmente que poucas vezes isso acontece. Mas o melhor é acabarmos com esta conversa.

 

Quando acabou o jantar, foram para a sala onde foram servidos pela empregada o café do costume.

Dª. Isabel depois de ter bebido o seu café ausentou-se para os seus aposentos pedindo desculpa mas o dia e a conversa tida não tinha corrido muito bem e no dia seguinte tinha que se levantar cedo.

Ficou Pai e filho sentados nos seus sofás. Um a ler o jornal diário e o outro foi colocar um DVD com um concerto de Andre Rieu ao mesmo tempo que se acompanhavam por uns conhaques.

Às tantas o Pai Mota levantou-se para ir encher novamente o seu copo. Pelo caminho perguntou:

 

- Não queres mais? Então hoje não sais? Esta semana não saíste à noite!

- Não! O Mário tem estado no Algarve e não me apetece sair.

- Mas tens mais amigos e amigas, sem ser esse Mário!...   

- Certamente que sim, mas este é um amigo de infância e é o meu melhor amigo.

- E namoradas?

- Cada um vai-se ajeitando. Por acaso até namoro uma prima dele.

- Olha!.. Isso é que é giro. Na minha juventude também tinha um amigo assim. Parecíamos “O Roque e a Amiga”. Para onde ia um, ia o outro. Chegámos a passar férias, juntos e a namorar duas irmãs.

- Mas namoravam as duas ao mesmo tempo?

- Não!... Cada um com a sua. O meu amigo que era um galifão, se pudesse comer as duas não olhava para traz.

- Foi por isso que acabaram com a amizade?

- Não!.. Acabamos os cursos. Ele foi para fora e eu fiquei por cá até me casar. Mas isso é uma história que vai comigo para o outro mundo.

- Quer dizer que tens segredos na tua vida.

- Quais segredos qual carapuça. Vou mas é deitar-me e tu se não vais sair, vai fazer o mesmo que amanhã é dia de trabalho.

 

Luís ainda ficou na sala a assistir ao resto do concerto e o Mota seguiu para os seus aposentos.

O Mota quando chegou à cama deu-lhe a vontade de brincar com a mulher mas esta disse que tinha dores de cabeça e não teve sorte alguma. Fechou os olhos e veio-lhe à memória o que se tinha passado durante o dia. Serrou ainda mais os olhos para tentar dormir. Deu duas voltas na cama e a caixinha de recordações foi aberta e voltou aos seus tempos de juventude. Tinha na altura dezassete anos.

 

Veja as suas recordações clicando (II Capitulo)

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Qualquer semelhança com factos reais é mera coincidência, ou não! O geral ultrapassa a ficção

           Nelson Camacho D’Magoito

        “Contos ao sabor da imaginação” (cn-249

             Para maiores de 18 anos

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