« Este sou eu.
Se há coisas na vida que detesto é a ingratidão e quando inadvertidamente dou a ideia que não estou grato às pessoas que de uma ou outra forma me ajudaram na vida e não falo nelas nos meus blogues não é por ingratidão ou esquecimento, é simplesmente porque o que por aqui vou escrevendo nada tem a ver com a minha vida privada, mas sim desabafos e criticas há situação ou pessoas do meu país e sempre sobre a minha óptica e estado de raiva que a vida assim me obrigou. Quando acho que o deva fazer, também por solidariedade dou o meu apoio e parabéns a quem acho de devo de dar. É obvio que como tenho mais que fazer nem sempre tenho tempo para vir aqui escrever o que me vai na alma.
Toda esta prosa vem a propósito de dois comentários que recebi de “Nicas”, em dois os posts meus: Adeus Milú a Menina da Rádio e Parabéns a Marco Paulo. - Você diz que eu sei quem é! Sinceramente e lamentavelmente não estou a ver, mas vou tentar descobrir.
«Arlindo Conde e eu nos bastidores antes de entrar em cena num espectáculo revisteiro.
Arlindo Conde não está nem nunca esteve esquecido na minha memória nem tão pouco os milhares de espectáculos que fiz sobre o seu comando como meu empresário.
No pós 25 de Abril, era ele que no dia dos meus anos me telefonava a dar-me os parabéns.
Encontramo-nos muitas vezes em Campo de Ourique para tomar um copo e recordar alguns momentos passados, inclusive matar saudades dos tempos da PAC único ponto de encontro entre artistas e nossos fãs que se faziam aos Domingos de manhã no Eden Teatro e nos Teatros Maria Vitória e Capitólio do saudoso Parque Mayer. Recordava-mos também com muita mágoa a forma como o Arlindo foi espoliado da sua empresa no tal 25 de Abril e o que mais doía é que foi feito por um seu empregado que por sinal até era seu afilhado. Lembro-me e porque a minha memória não é curta, que foi o Fernando Conde (seu filho mais velho) que quando soube da situação foi às oito da manhã para a porta do banco para levantar o dinheiro que lá tinham, caso contrário até esse lhes era roubado.
Felizmente que a empresa nas mãos do tal “ladrão” não teve qualquer sucesso e teve de fechar prematuramente. Quanto ao Arlindo, foram os filhos que o ajudaram a sobreviver e a reforma que passou a ter da Rádio.
Quanto aqueles a quem ele ajudou, por Exemplo: António Calvário que o fez Rei da Rádio vários anos seguido, Artur Garcia e Paco Bandeira que chegaram também a ser Reis da Rádio depressa o esqueceram.
A PAC tinha um Centro de preparação para artistas da rádio que funcionava nos mesmos parâmetros do Centro de Preparação da Emissora Nacional. Muitos artistas por lá passaram com portas abertas para gravações de discos, tanto no Valentim de Carvalho como na Grande Feira do Disco, assim como percorreram o país com imensos espectáculos de variedades, como se chamava na altura – hoje chamam-se Concertos -.
«Nesta foto aqui está o Arlindo, o Calvário e eu, entre outros num jantar que sempre nos brindava antes de um qualquer espectáculo.
Arlindo Conde foi um dos maiores empresários da praça na altura com escritório aberto, os outros, um era porteiro da Emissora Nacional e outros faziam do Café Lisboa o seu escritório.
Quanto a colegas cantores ao que parece, todos se esqueceram dele. Diz “Nicas” nos seus comentários que o Arlindo Conde está esquecido por todos os que ajudou e com os seus 86 anos sente-se nostálgico ao recordar os tempos áureos do nosso meio artístico.
Minha cara amiga, também eu já estou na idade dos “cotas” mas não tenho nostalgia, tenho raiva do que a revolução dos cravos o fez aos artistas nacionais. Uns, foram postos na prateleira porque cantavam o amor a que lhes chamaram de nacionais cançonetistas, outros foram esquecidos simplesmente. Até a Amália Rodrigues agora no Panteão nacional como grande credora de benfeitorias feitas a este país, cinzento e triste, lhe chamaram fascista e que as suas actuações no estrangeiro eram em conluio com a PIDE.
Também o Tony de Matos e Francisco José, não contando com a parte que me toca, foram colocados na prateleira até à eternidade. Também o Badaró há poucos dias que partiu para o outro lado sem apoio dos “senhores?” que mandam neste país.
Existem actores, actrizes e cantores a passarem fome ou esquecidos nas suas casas ou atirados para um canto na Caso do Artista.
Mas temos uma nova geração nos palcos, nas televisões e na rádio que vão aparecendo só porque são bonitos. Eu também já fui, mas aprendi sempre com os mais velhos, coisa que essa gente não sabe o que é. Julgam que já sabem tudo e trazem o rei na barriga.
Podia aqui enumerar os esquecidos que foram grandes. São tantos que não tenho espaço, mas ainda me dá vontade de falar de alguns, por Exemplo: António Mourão, Cidália Moreira, Eugénia Lima, Anita Guerreiro, Aguinaldo Ribeiro, Arlindo de Carvalho, Carlos Miguel (O fininho) que anda a comer na “sopa do sidónio” e tem como telhado o luar da nossa Lisboa.
Além de ser cançonetista, agora são cantores, também fui radialista, agora são papagaios e transmissores de Play list formadas pelas editoras e manda chuvas das rádios.
A situação artística com a tal revolução dos cravos em vez de trazerem algo de novo, para mim, só trouxe liberdade de expressão, mas andam para ai alguns abusadores, pioraram. Veja-se: Os Chamados cantores, nos “concertos” da província, fazem Play-Back. Os actores fazem peças de teatro experimental à custa de subsídios que nós pagamos. Os radialistas, mesmo havendo uma lei para a rádio, não passam os cançonetistas ou fadistas da nossa terra. Voltamos ao conceito salazarista, o que vem do estrangeiro é que é bom. Os novos actores de TV nem sabem onde fica o Conservatório Nacional de Música – parece que agora lhe chamam outra coisa.
Amiga Nicas, você fez-me escrever coisas que vão chatear muita gente, assim como fez que levanta-se um pouco o véu de quem sou e fui. Como nunca me escondi atrás de um pseudónimo na net qualquer, talvez tenha chegado a hora de começar a dizer mais verdades sobre o nosso panorama nacional.
Quanto ao Arlindo Conde, quando voltei do estrangeiro em 2004, disseram-me que tinha falecido. Estou feliz por ser mentira e vou tentar entrar em contacto com ele.
Como diz o outro: Fui muito feliz na PAC e agradeço ao Arlindo.
São 05:30 da manhã mas não podia deixar este para outro dia
Cançonetistas, actores, radialistas e fãs da arte de representar da nossa terra, tenham esperança que esta crise não dura sempre.
Nelson Camacho D’Magoito
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