Quarta-feira, 18 de Maio de 2016

Fingi que virei a página

Fingi que virei a página

 Disseste que me amarias até morrer!.. Mas foi uma mentira…

Estou perdido, mas não quero deixar que saibas que continuo aqui, olhando a tua fotografia e que todas as madrugadas o nosso livro se abre e os meus olhos não querem mais nada do que relembrar com o peito a arder de saudade momentos que julguei serem para sempre.

Não virei a página!

Não entendo como é que depois de tanto tempo, permaneces vivo em mim quando a nossa história, ah a nossa história, já teve um fim, pelo menos para ti, porque fingindo sorrisos quando nos cruzamos e dizendo que superei tornou-se um hábito, mas as minhas madrugadas são cheias de lágrimas pesadas que o coração guardou o dia inteiro.

A madrugada é tudo o que eu não queria vivenciar, porque outrora, nessas madrugadas, partilhávamos risos, conversávamos por horas, fazíamos guerras bobas de “eu amo-te mais” e cantavas para mim.

Nunca te menti quando disse que não superaria, mas aconteceu! Tornei-me mentiroso, quase compulsivo. Dizer que superei é uma mentira bárbara para mim pois no meu mundo real o que quero é colocarmos novamente na vitrola o disco do Richard Clayderman em My Way e ao som daquele piano voltar-mos a fazer amor até de madrugada.

Fingi que virei a página…

Porque continuo a sorrir-te – em forma do olhar a fotografia – quando tudo o que quero é desabafar à tua frente, falar-te de todas as noites que não durmo, porque faltas-me o teu corpo para aquecer os meus nestas noites geladas. Porque tento convencer-me de que é melhor para mim, quando eu bem sei, que o melhor para mim era estar contigo!.. e continuo a tentar virar a página.

É uma luta interior há qual não consigo por termo, é uma luta contra os meus próprios demónios.

Estou só!.. Levaste tudo o que era de mais belo em mim. O amor as carícias o companheirismo o adormecer com “as guerras bobas” e o café da manhã na cama.

Por mais que finja. Por mais que tente virar a página, até convencer os outros, jamais convencerei o meu coração, porque palavras são apenas palavras, mas não sentimento. Do sentimento, não posso fugir!

Não sei virar páginas, e vou colocando vírgulas nesta história, porque o final assusta-me, não sei superar!

Ainda espero que nos cruzemos novamente.

Quando esse momento chegar vou deixar que o silêncio tome conta de nós e vamos encarar nossos olhos e nos beijarmos tal como da primeira vez e acabemos adormecendo com nas nossas guerras bobas.

 Qualquer semelhança com factos reais é mera coincidência, ou não! O geral ultrapassa a ficção

              Nelson Camacho D’Magoito

        “Contos ao sabor da imaginação” (293)

               Para maiores de 18 anos

                   © Nelson Camacho
2016 (ao abrigo do código do direito de autor)

música que estou a ouvir: My Way
Estou com uma pica dos diabos: Triste
publicado por nelson camacho às 20:47
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Terça-feira, 10 de Maio de 2016

Pagamento ao Caronte

Naquele dia, incontáveis pessoas se reuniram ao entardecer para comemorarem. Homens e mulheres, batucavam e cantavam felizes por terem vencido mais uma batalha na guerra. Havia carne espalhada da recém-batalha, bebidas em abundância, fogueiras sendo acesas e muitas pessoas dispostas a não dormir naquela noite. A  euforia era o sentimento que preenchia o ar, no céu cores alaranjada como se os deuses também acendessem fogueiras para comemorar.

A batalha tinha sido particularmente fácil, o inimigo débil e sonolento não teve tempo –e nem coragem, para se erguer diante do exército que viria. Estava disposto a muito pouco, o que não soubera, mas naquele dia, este pouco, lhe custaria quase tudo. O exército vencedor não precisou de estratégias para atacar o inimigo, não fora dividido para avançar pelos flancos, nem ordens foram dadas  para atacar pelas costas. Apenas formaram um bloco espesso de guerreiros que gritavam e enfiavam suas espadas nas tripas de homens que nem tiveram tempo de acordar para morrer.

Por isso comemoravam. Não esperavam uma vitória tão genuína e fácil. Alguns inclusive, comentavam que, por conta do grande número de sacrifícios que haviam feito naquela estação, finalmente tinham sido abençoado pelos deuses. Mas havia controvérsias. Três, para ser mais exacto.

Havia dois homens e uma mulher naquele campo, que não tinham motivo algum para comemorar.  Naquela tarde, enquanto atacavam um lado afastado da aldeia com a mesma facilidade que os demais, descobriram um imprevisto. Imprevisto que estava acordado, à espreita, esperando. Este, estava mais disposto a lutar, a não desistir e covardemente atacou o capitão pelas costas, perfurando-lhe o pulmão e fugiu. E o que poderia ser única luta honrada da batalha, sendo dois homens somente com suas espadas e sua gana pela vida, se transformou na morte mais bestial daquele exército. Tão bestial que quase não foi lembrada por aqueles que tanto tinham a comemorar.

Mas aqueles três, enquanto observavam a sombra das pessoas que dançavam em torno de postes com bandeiras, não tiveram coragem de ficarem próximos. Estavam afastados um do outro, e mal cruzavam olhares. Apesar da cerveja em suas mãos, um sorriso por vezes amarelo em seus rostos e da distância inconsciente de seus corpos, tinham algo em comum. Tinham uma morte em comum. Naquela batalha, eles haviam perdido. Foram os únicos que viram o que ocorrera com o capitão, a vida se esvaindo, as pupilas dilatando, o grito esganiçado e a visita da morte, deixando ali, um corpo inanimado, sem cor, sem vida. Juntos descobriram que a morte é um não-existir, não-pertencer, não-estar. A trepidação do fogo, os fazia lembrar que na noite anterior brindaram ao capitão, levantaram canecas e lhe juraram lealdade, lhes prometera a vida, caso fosse necessário. E não foi.  No momento em que a alma do capitão fora levada, colocaram sua espada em suas mãos e uma moeda em seu bolso para que o barqueiro o levasse em segurança para o mundo dos mortos.

A festa, que acontecia naquele campo, era em suma, para comemorar a vida. Então, aqueles guerreiros brindavam e sentiam-se felizes, completos, por estarem todos bem. Vivos. Só havia três corações que sangravam despedaçados ali. Três pessoas que exibiam falsos sorrisos, com aquela cruel lembrança que ia e vinha… A proporção da vontade de esquecer, era inversamente proporcional à facilidade de lembrar. Não havia mais dor, era um desconforto que eles sabiam, ia durar até enquanto durassem suas vidas, que sempre apunhalariam seus corações com a mais severa das lembranças. E isso os consumia.

Em meio à comemoração a vitória, os três choravam pela morte. Essencialmente, é assim mesmo que a vida funciona. Em um momento  se existe, para em outrora, não mais ser, sentir ou viver. A vida é passageira, o não-existir é constante na passagem dos que ficam. Tudo se resume a um ciclo vicioso, um processo que não pára. Um Caronte que não descansa, nunca.

 

Qualquer semelhança com factos reais é mera coincidência, ou não! O geral ultrapassa a ficção

 

              Nelson Camacho D’Magoito

        “ Gentileza de JESSBLOG “(292)

               Para maiores de 18 anos

                   © Nelson Camacho
2016 (ao abrigo do código do direito de autor)

publicado por nelson camacho às 03:03
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