Como português e alfacinha de gema gostava de ser esclarecido pela Câmara Municipal de Lisboa sobre o atentado no Monumento Nacional do Arco Triunfal da Rua Augusta.
Encontrando-me numa fase da vida em que sair do meu canto é raro mas de vez em quanto apetece-me dar uma volta pela minha lisboa foi o que aconteceu no outro dia, dia de sol a apetecer beber uma cervejinha numa das esplanadas da rua Augusta.
O Sol batia-me na nuca e ia esbater-se no Arco Triunfal que separa a rua com a Praça do Comércio e algo brilhava lá no fundo. Achei estranho mas não liguei. Estava feliz por estar na minha velha Lisboa.
Embora a crise financeira seja muita a rua estava cheia de turistas nacionais e estrangeiros.
Sendo uma rua de ligação com os barcos para a outra banda, esta é sempre um fervilhar de gente no vai e vem, umas para casa outros para o trabalho, aqueles que ainda o têm. As lojas! Ainda são algumas que se vão aguentando abertas. De gente, só se via os empregados á porta, tal saudosa “Feira Popular “convidando os passantes a entrar. Alguns, entrar, entravam, mas comprar algo, nicles e os empregados voltavam até à porta, sorrindo para os passantes como a convidá-los a gastarem uns cobres.
No meio daquele turbilhão de gente, lá estava o “Homem Estátua”, o Músico de rua mostrando a sua maestria com sua guitarra elétrica e outro com uma guitarra portuguesa esganiçando um fado dos outros tempos. Lá mais ao fundo bancas de artesanato um pouco de todos os cantos deste planeta que por ali se movimentam tentando vender umas quinquilharias a turistas. Também havia uns fulanos muito anafados que se dirigiam a toda a gente tentando vender-lhes algo com promessas de sonhos felizes – apartamentos de férias no Algarve, colchões ditos ortopédicos, seguros e máquinas que prometem emagrecer sem fazer força – tudo se tenta impingir ao mais incauto. Não faltava a vendedeira de flores que me fez lembrar “A Júlia Florista” que o saudoso Max tão primorosamente cantava. Só faltava o puto a vender às escondidas, como antigamente, as camisinhas para não procriar. Hoje, vendem-se em máquinas e supermercados e são para prevenção contra a SIDA. Lá a um canto lá estavam dois com cara de caso, tentando oferecer o seu produto (droga). Também não faltavam outros mais velhos tipo aciganados que ofereciam uma arma a baixo custo.
Esta é a Lisboa cosmopolita do tempo das novas tecnologias, dos assaltos, dos roubos dos pederastas e da miséria.
Tinha vindo até Lisboa para me distrair e acabei por estar triste. Lisboa já não é a Lisboa que eu adoro e que podia passear livremente a qualquer hora do dia ou da noite. Dizem que são outros tempos e outras vontades.
Acabei de beber a segunda cervejita e lá fui caminhando rua fora até ao nosso Arco do Triunfo.
Já agora, convém relembrar que aquele Arco Triunfal da Rua Augusta que dá entrada para a Praça de D. José (Chamada Praça do Comércio) foi erguida e inaugurada no século XIX, mais de um século depois dos restantes edifícios que circundam a Praça do Comércio, é considerado como Monumento Nacional. Por ali entravam altas individualidades do mundo, se faziam paradas militares e partiam os grandes senhores à descoberta de outras paragens e riquezas que traziam nas suas naus e caravelas.
Caminhando ao encontro daqueles reflexos de sol que vinham do tal arco, deparei com o horror dos horrores o atentado contra aquela beleza arquitetónica pombalina do belo arco.
Seis antigas janelas de madeira nas paredes laterais do Arco foram substituídas por outras de alumínio prateado que constitui um atentado ao património cultural e histórico na Baixa Pombalina.
Já não basta a degradação em que se encontra o arco neste momento que sofre de várias patologias resultantes de anos a fio de incúria.
Considero como cidadão ter o direito de perguntar a quem de direito na Camara Municipal de Lisboa a quando o restauro deste monumento histórico e nacional deve ser feito reproduzindo a época em desenho e material com a reposição dos materiais originais que dão coerência e unidade formal a este conjunto arquitetónico Pombalino que todos nos devemos orgulhar.
Não me digam que não há dinheiro para reconstrução e limpeza dos monumentos degradados pela erosão dos tempos.
Eu lembro-me de nos anos cinquenta, quando comecei a trabalhar, ver camionetas com presos que se dirigiam para o atual edifício da Policia judiciária para o construir.
Outros tempos, outras vontades.
Nelson Camacho
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