Sexta-feira, 7 de Dezembro de 2007

O Carteiro ao fim de ano

 

O Carteiro

 

     Estamos no fim do ano de 2007 e vários convites me teem chegado verbalmente e telefonicamente solicitando a minha presença neste natal. São convites que me chegam de amigos que sabem ir passar estas festividades só entre as minhas quatro paredes. Quatro paredes que vão sendo hábito neste tempo de vida já vivida e prestes a terminar, (como é habito dizer: O barqueiro já está no rio à minha espera) a alguns, digo que sim, a outros digo que não tenho tempo, ou quero ficar com as minhas recordações.

 

     Nenhum convite vem pelo correio, no entanto, ele não para de chegar à minha porta, parece que nesta altura todos se lembraram de mim para solicitar os compromissos que não cumpri ao longo do ano e não cumprirei certamente porque os euros não chegam para tanto.

 

      Lembro-me então o que todos nós sofremos quando ouvimos bater o carteiro, um turbilhão de sentimentos diversos nos acodem à mente.

     Esse homem é o fiel mensageiro de vida ou da morte.

     Uns o esperam com alvoroço, outros com receio.

     O carteiro é uma esperança ambulante.

     Este homem vulgar espalha nas famílias com a mesma insensibilidade, a tristeza e a alegria, os lutos e os convites para uma festa.

     À maneira da fortuna, o carteiro é cego, porque distribui, com a mesma desigualdade, os prémios e os castigos, as prosperidades e as ruínas.

     Na sua mala misteriosa de correio não se conhecem categorias sociais, nem ódios, nem rivalidades, nem sexos, nem idades. Tudo ali se acha envolvido e conglomerado na mais absoluta confusão.

 

Depois de dissertar sobre o carteiro, lembrei-me de um poema de João de Deus.

 

A VIDA

 

A vida é o dia de hoje,

A vida é ai que mal soa,

A vida é sombra que foge,

A vida é nuvem que voa;

A vida é sonho tão leve

Que se desfaz como a neve

E como o fumo se esvai;

A vida dura um momento,

Mais leve que o pensamento,

A vida leva-a o vento,

A vida é folha que cai!

 

A Vida é flor na corrente,

A via é sopro suave,

A vida é estrela cadente,

Voa mais leve que a ave:

Nuvem que o vento nos ares,

Onda que o vento nos mares,

Uma após outra lançou,

A vida – pena caída

Da asa da ave ferida –

De vale em vale impelida

A vida o vento a levou!

 

Nelson Camacho D’Magoito

Estou com uma pica dos diabos: e com pena dos em abrigo
música que estou a ouvir: Canto de Natal
publicado por nelson camacho às 14:40
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