O pensamento positivista que foi até considerado como uma religião humanista que propunha libertar o homem dos mitos que a religião sobrenaturalista apregoava, está tão impregnada na cultura dos países livres que é difícil encontrar um humano normal. Todos são super-homens e mulheres maravilhas. As religiões sobrenaturalistas incorporaram a religião do positivismo em seus livros sagrados. Hoje é proibido ser menos do que é importante. Todos lutam para serem melhores do que realmente são, todos lutam para serem os bonitos, os mais importantes, os mais bem-sucedidos, os mais prósperos, os mais sábios, os melhores vendedores, os melhores críticos, os melhores, os melhores... A sociedade está impregnada por fazer todos se sentirem bem, se sentirem os mais.
Cada dia somos os mais exigentes connosco e com os outros. As mulheres estão cada dia mais lindas, e cada dia mais desnutridas, procurando sempre o corpo perfeito, o homem perfeito, a mulher perfeita, são as super-maravilhas. Nessa procura de ser a gostosona, e a mais, enchem de silicones e são tantos instrumentos para se adequarem; que as empresas que exploram esses ramos das cirurgias plásticas estão bem no mercado. Mesmo que a conceção do belo seja relativo, isso não ajuda a escravidão que vivem esses seres tão fanáticos pela importância. A exposição das mulheres na síndrome da importância é tão chocante que faz parte da admiração dos homens ao derredor do mundo. São crianças, garotas, mulheres, ricos e pobres se exibindo, se mostrando, deixando aparecer seus corpos, posando, se vendendo, são cada situações que cansam a visão, e passam como as flores que nascem, florescem, murcham.
Os homens também entraram no mercado da síndrome da importância. Esses são mais reservados, mas estão também perambulando na busca da certeza da sua valorização. Agora, são tão vaidosos quanto as mulheres, raspam os seus pelos, usam maquiagem, fazem as unhas, usam-se brincos, criam-se dialetos machões, trabalham o corpo, anabolizantes, etc. Para esses ainda perdura o domínio das posses, das exibições dos carros envenenados, rebaixados, sons estridentes, apenas são os caras, os radicais, o grupo que se dá bem com as minas. São vítimas da síndrome do importante. Agora, esses também se vendem, se prostituem, são abusados, são expostos nas vitrines, e são tidos como os superimportantes.
Nessa religião do positivismo e da busca do importante de uma maneira simples, ou sofisticadas impera as palavras positivistas, palavras de poderes, palavras mágicas. A bíblia é uma fonte de busca de Palavras poderosas; que tudo vai dá certo, as músicas são realizadas para enobrecer os sentimentos humanos, superação, engrandecimento. Nesse cenário religioso cultural positivista; nessa busca desenfreada pelo importante, pelo sucesso, pela superação quem é diferente é doente, passa mal, é ridicularizado, é marginalizado. Assim, o homem é preso as suas ideias positivistas, porque essas não condizem com a realidade. A realidade é que os serem humanos estão doentes pelo mundo virtual, de suas ideias, de suas fugas paradisíacas num mundo irreal.
Então, nessa loucura da síndrome da importância é preciso que todos nós venhamos a refletir e ser o juiz de nós mesmos. Então, que as mulheres aprendam a valorizar o que seja normal. Aceitar o que são, viver uma vida natural. Que os homens aceitem suas vidas da forma que são, a naturalidade, a simplicidade ainda é a busca que todos deveriam amar. O relacionamento e o contato com as pessoas fisicamente deveria ser a prioridade; nossos filhos deveriam sociabilizar nos parques, correr, brincar de pique, e não ficar presos aos apartamentos, e casas com muros fechados. As escolas deveriam ensinar as pessoas a serem naturais, uma vida natural, com alimentação equilibrada, etc. A valorização dos recursos naturais, e procurar evitar uma relação virtual. Não podemos ter uma boa qualidade de vida, com tantos barulhos, sem precisar dormir bem, acordar bem, e a relação do homem e da mulher deveria ser pautada não pela nudez, corpo, mas pela qualidade do que a pessoa tem de valor no âmbito subjetivo.
Assim, a religião também tem culpa nesse universo, porque não há super-homens. O sofrimento, e a alegria estão juntas em todas as manifestações humanas. A prosperidade sempre é fruto de trabalho honesto, pela regra simples, quem planta colhe. Quem trabalha receberá o fruto de seu trabalho. Assim, o belo são as pessoas por inteiro, e o que é lindo hoje, mudará amanhã. O belo é o equilíbrio. Ser triste, chorar, está nostálgico, e outro dia exuberante, alegre, feliz, isso faz parte da nossa vida. Eu quero ter o direito de ser introspetivo, assim, como humorista, quero ser criança pelas ruas, soltar pipa sem ser julgado como marginal. Queremos ser sérios, de ternos e gravatas, defender nossas ideias, jantar com os inteligentes, dar um fora de vez em quando, quebrar as etiquetas, por quê não? Assim, a beleza e a felicidade é sentar na praça tomar aquele sorvete, alegrar-se com as crianças, viajar de vez em quando, sorrir das casualidades, discursar para uma plateia atenta, ouvir aquela música que gostamos, e ler aquele bom livro, estudar aquele assunto, trabalhar, etc.
E saber que não somos nem mais e nem menos do que os outros. Apenas somos. É lamentável que não somos assim, e lamentável porque nos fechamos para o outro. A vida passará e muitos de nós não temos a ideia do que as pessoas realmente são. Triste que bilhões de pessoas existem e não conseguem mensurar a importância de apenas viver, e sobreviver.
Qualquer semelhança com factos reais é mera coincidência, ou não! O geral ultrapassa a ficção
Nelson Camacho D’Magoito
“Textos DR” (314)
Para maiores de 18 anos
© Nelson Camacho
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