It Could Happen To You
Uma história de amor que podia ser a sua
(um conto longo)
VII Capítulo
(Quando João é posto fora de casa)
Aquele apontar do dedo de D. Gertrudes dirigido à porta de saída para seu filho somente porque tinha gorado todas as suas expectativas quando mãe, coisa que ela não entendia nem queria entender, foi o culminar de uma tragédia.
João do alto da sua dignidade, nem uma lágrima. Cabisbaixo foi recolher-se junto de quem lhe tida dado amor e carinho verdadeiro durante vários anos.
Os Marques adivinhando que algo de grave se tinha passado não só o receberam de braços abertos como nem quiseram saber o que se tinha passado. Estava na hora de jantar e para lá se dirigiram.
Conversas? Para quê? O silêncio em situações graves move montanhas. Quando há amor entre as pessoas por vezes o silêncio é nobre, embora as consequências sejam inauditas! Não é preciso comentar o que vai na alma de cada um. É uma resolução tenebrosa que só a cada um corresponde.
O repasto foi curto. Findo, a Dr.ª Eugénia retirou-se para os seus aposentos, deixando os homens no salão para o café e o conhaque do costume.
- Hoje não quero café! Apetece-me antes um grande copo de Whisky. – disse ainda cabisbaixo o João.
- Mas filho! O whisky não te leva a nada, mas até podes beber uma garrafa. – disse carinhosamente o pais do Carlos.
Foram estas palavras de carinho vindas daquele homem que não lhe era nada que fez com que uma lágrima lhe escorresse pelas faces
Carlos abraçou-o e ao ouvido comentou. “Este também é teu pai e amigo”
Marques como bom advogado e conselheiro e homem por onde lhe passaram pela cátedra casos idênticos, aproximou-se deles a abraçou-os.
Todos beberam mais um copo e trocaram impressões sobre as férias que tinham acabado de fazer em Paris sem nunca tocarem em assuntos que melindrassem foque quem fossa, até vinda lá de dentro entrou D. Eugénia já de robe vestido.
- Então hoje não se vão deitar? Amanhã é Domingo e têm tempo para resolver os problemas.
O Caminho para a resolução do problema
O Domingo estava esplendoroso o Sol lá do alto era forte e reflectia-se nas pequenas ondulações da piscina derivado a um pouco de vento que corria. Como já era meio-dia quando todo mundo se levantou veio espreitar como estava o dia e resolveram fazer um pequeno-almoço almoçarado no quintal junto à piscina.
Sobre o que se tinha passado na noite anterior em casa do João, depreende-se que tanto o casal Marques como os dois rapazes no conchego das suas camas, conversaram sobre o assunto e delinearam os futuros.
Efectivamente D. Eugénia entregou uma chave a cada um dos rapazes do apartamento da Ericeira e só recomendou:
Quando quiserem podem ocupá-la e trata-la como se fosse vossa. Só pagam a água a luz e o gás. Como não tem mobília isso fica por vossa conta e gosto.
- Eu até fico no chão. - Retorquiu o João.
Com o ar mais simplório deste mundo mas com um sorriso rasgado o Carlos respondeu:
- Se quiseres o problema é teu! Desde que não sirva de colchão.
- Então meninos!!!! - Atacaram os Marques misturando grandes gargalhadas.
Entre umas coisas leves que foram arranjando para comer e uns saltos na piscina porque o dia se proporcionava, naquele domingo delinearam o próximo futuro de todos.
Na segunda-feira os rapazes seriam presentes nos escritórios do Dr. para serem apresentados aos seus sócios. D. Eugénia iria dar umas limpezas no apartamento.
Como os escritórios era em Lisboa e como ainda não tinham mobília no apartamento, ficariam lá em casa sempre que lhes apetecesse, até o “ninho” (como carinhosamente o pai Marques lhe chamava) estivesse em condições de habitabilidade.
Por incrível que parecesse, ou não. Os pais do João naquele Domingo embora estivessem em casa. Não deram o ar das suas graças.
Foi naquele Domingo que findou a ligação de João com os pais. Em contrapartida este descobriu outros substitutos.
João tinha sido adoptado pelos pais do Carlos e Deus os iria ajudar com toda a sua benevolência. No final de contas, aqueles rapazes não fizeram mal a ninguém, só queriam ser felizes sabendo com o que tinham de arcar para essa felicidade permanece.
Seis meses depois
Não se poderá dizer que aqueles dois rapazes eram um casal normal no que diz respeito à constituição de um lar. Tinham apanhado um apartamento onde só constava os electrodomésticos iniciais numa casa e uma cama que apressadamente foram comprar para inicialmente ser habitável, mas tinham algo em comum com uns recém-casados. A Maior felicidade do mundo.
Contrariamente a muitos, tinham planificado as suas vidas tanto na parte económica como na social.
Mensalmente retiravam dos seus ordenados uma percentagem igual para as despesas prioritárias de manutenção da casa. Depois outra verba também em iguais partes para a compra do mobiliário que levou seis meses a concluir. Despesas supérfluas, eram suportadas por um de cada vez que lhes apeteciam convidar o outro para um cinema, um teatro ou uma exposição de arte. Até o tabaco era comprado mensalmente fazendo parte das despesas chamadas prioritárias assim como a gasolina que utilizavam para as idas para o trabalho, já que só utilizavam um carro. Raramente ficavam em casa dos pais do Carlos.
Os seus planos de concluiu passados seis meses estavam concluídos e tiveram o seu primeiro desaire.
“João nunca mais tinha falado com os pais. (embora tivesse feito várias tentativas, estes nunca mais o quiseram receber desde o dia em que D. Gertrudes lhe apontou a porta de saída) já os pais do Carlos, não só os acompanharam profissionalmente no seu escritório como moralmente”.
Já com o apartamento todo mobilado resolveram em uma sexta-feira convidar ambos os pais para um almoço em sua casa do próximo Domingo.
Os pais do Carlos foram convidados no escritório (que aceitaram prontamente) e os pais do João telefonicamente tendo por resposta da mãe deste “que não ia a casa de maricas…”
Foi como um balde de água gelada (dizer fria é pouco) que rodos receberam a notícia daquela senhora, mãe e médica mas o almoço fez-se, assim como muitos durante dois anos até que aconteceu o improvável.
Carlos tinha contraído uma constipação e telefonou para o pai contando o sucedido e que não ia nesse dia ao escritório. O João iria sozinho.
Naquele dia as horas para o Carlos pareciam serem mais longas que qualquer outro dia. Na cama bebendo continuamente leite com mel acompanhado por comprimidos antigripais o seu entretenimento era a televisão acabando por adormecer.
Por força da gripe e dos comprimidos acabou por adormecer e nem deu pela falta do João. Quando acordou estava a dar o telejornal da manhã e estava a dar uma notícia sobre um grave acidente na IC19 onde tinham estados vários carros envolvidos. Teve um baque no coração, esticou um braço até o local onde estaria o seu amigo, mas ele não estava lá.
Foi com um terrível pensamento e tremendo por todos os lados que se agarrou ao telefone e ligou para o pai, perguntando se o João estava lá.
- Não filho!!!.. Ele até saiu mais cedo do escritório porque tu estavas doente.
- Pai! Ele ainda não apareceu em casa! Liga a televisão, Estão a dar uma notícia de um acidente na IC19 (nesta altura Carlos já se levantava para se vestir e chorava convulsivamente como a adivinhar o pior, de tal forma que já nem ouviu o pai dizer para ter calma pois iria saber o que se passava).
O Dr. como advogado ligou para a policia para saber do acidente e soube ma mais triste noticia da sua vida. (O João tinha sido um dos acidentados na tarde anterior e estava no hospital da Amadora). Tentou ligar para o filho mas este tinha o telefone desligado e já vinha a caminho da casa dos pais.
Porque a vida por vezes danos certas contrariedades e infelizmente muitas vezes para o pior, encontraram-se todos na rua às portas de suas casas. (Carlos que chegava entretanto, os pais deste que saiam de casa e os pais do João que já tinham sido informados pela policia e hospital do sucedido) D. Gertrudes com um tremendo desafora dando de caras com eles:
- Seus assassinos! Foram vocês que mataram o meu querido filho. Vão pagar por tudo o que me fizeram! Vou-lhes tirar tudo. O que vocês me fizeram não se faz a uma mãe.
Carlos e os pais meteram-se no carro sem respostas para dar e caminharam ao hospital, ficando aquela mulher que nem mesmo com uma desgraça daquelas, entendia que talvez ele fosse a causadora de tudo ao correr com o filho de casa só porque a sua tendência sexual não fazia parte dos seus padrões. E continuava a vociferar ferozmente já o carro dos Marques se desviava lá no fundo da rua.
Chegadas ao hospital
Como o Dr. Eduardo França tinha estado de serviço nas urgência do hospital, foi o primeiro a saber da notícia tratando logo do filho e como pai, deu ordens para ninguém se aproximar do corpo já falecido até à chegada de sua mulher. “Quem não é da família não tem direitos sequer ao velório” declarou ele.
Assim que ao Marques souberam da notícia de imediato fizeram questão de acompanhar o filho ao hospital dando-se o inicio da maior tragédia jamais pensada.
Estavam todos proibidos de se chegarem junto ao corpo de João.
Nem mesmo Os amigos advogados junto das autoridades conseguiram aproximarem-se do falecida na medida em que os pais tinham dado ordens de ser um velório privado e somente entre familiares.
Fizeram a cremação do corpo e nem a divulgação do local das cinzas foram divulgadas.
Seis meses depois Carlos só se lembrava das batalhas jurídicas que os pais do João tinham atentado para reaver os bens móveis existentes em casa de ambos mas perderam sempre na medida em que a casa de habitação do João e do Carlos estavam em nome dos pais deste.
Carlos já não podia olhar para aqueles olhos que muitas vezes substituíam as palavras.
Naquele dia na esplanada da Marina de Cascais tudo lhe veio à mente, mas também os momentos bons que tinha passado durante anos com o seu amigo.
Foi com todas estas lembranças que Carlos, saiu do carro e se dirigiu a uma ponta de rocha onde começavam as escarpas até ao mar Carlos fechou os olhos. Ao ouvir as ondas batendo nas rochas suas lembranças foram até ao batimento de corpos na piscina de um hotel de Espanha onde lá estava o João no cimo do trampolim de braços abertos preparando-se para o seu primeiro salto acrobático para a água.
Carlos a pouco e pouco foi-se lembrando que tinha sido naquele dia que tudo tinha começado entre eles. Naqueles escassos segundos percorreram em sua memória desde o primeiro afago no cadeirão daquela piscina, até às escondidas de todos e já depois do hipócritas se terem afastado pegou numa cravo e depositou-o na campa já abandonado do João.
Abriu os braços como Cristo pedindo perdão ao mundo e tal como João naquele dia e naquela piscina se atirou num salto acrobático. A sua última imaginação foi aquela em que um dia segurando no seu amigo ao colo se atiraram para uma piscina.
Lá no fundo não havia a água da piscina mas o mar bravio da Boca do Inferno e Nossa Senhora esperando por ele
Toda a história em: (parte 1) – (Parte 2) – (Parte 3) – (Parte 4) – (Parte 5) – (Parte 6) – (Parte 7)
Qualquer semelhança com factos reais é mera coincidência. O geral ultrapassa a ficção.
As fotos aqui apresentadas são livres de copyright e retiradas da Net.
Nelson Camacho D’Magoito
“Contos ao sabor da imaginação”
de Nelson Camacho
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