Não Beijo
1º. Capitulo
Há sempre um tempo em que a juventude na febre de viver depara-se com algumas armadilhas que a vida se lhes apresenta principalmente quando se propõem a abandonar a província e rumam à grande cidade.
Todos conhecemos um ou outro belo rapaz que emigrou do interior para a grande cidade onde procuram a sua sorte. Nesse aspecto, a grande aventura de Pedro, longe da sua terra longínqua e do conforto dos familiares, na grande cidade, depois de experimentar vários empregos na hotelaria e em pretensos cursos de teatro e concursos de TV com o intuito de se tornar famoso derivado ao julgar ser fácil a sua promoção como muitos outros que entraram em princípio como figurantes em novelas em que os protagonistas são belos rapazes que beijam belas raparigas e andam em brutos carros e levam uma vida de luxo, não sabia que na realidade não era assim tão fácil. As tentações são grandes e as escadas para o sucesso são bastantes ingremes e por vezes acabam no consumo da droga ou na prostituição.- Umas vezes para conseguirem determinado papel na profissão tão desejada, porque um favor paga-se com outro favor ou porque os workshops têm de se pagar assim como a renda do quarto e os fatos de marca.- Acabam por cair em armadilhas mais fáceis e estas são a prostituição.
Particularmente o Pedro tornou-se em mais um igual a tantos outros que às escondidas vai fazendo a sua vida dupla, com a particularidade de não beijar, não chupar e nem se deixar beijar, acalentando sempre ser assim, conseguir o sonho de se tornar naquela vedeta de novela que via na sua terra através da TV. Esqueceu-se que esse mundo é um mundo sombrio receptáculo de todas as decepções mas onde brilha a ténue clarão do sonho.
O que atraia em primeiro lugar a Pedro era sem dúvida a inocência da idade e do Antes da queda que o fazia baixar os olhos quando se falava daquelas “coisas” e se desviava de venais avanços de colegas, protectores ou promotores de facilidades.
Com um perfil voluntarioso e um olhar obstinado para as coisas é agarrado pelos predadores sempre à espreita de uma boa ocasião para fazerem dos Pedros seus pupilos.
“Não beijo nem chupo sem quero que me beije” é sempre a resposta pronta na língua quando é abordado para pagar um favor de uma audição”.
As “coisas” que sempre foi ouvindo aqui e ali entre colegas, rapaz provinciano em que julgava ser “chegar e vencer”, afinal não era verdade. Os favores pagam-se!...
Por várias vezes Pedro foi assediado a prostituir-se mas a resposta era sempre a mesma “Não faço essas coisas”.
- Não me digas que queres continuar a ser virgem! – Diziam alguns.
Um dia entrou num workshop. Pagou a primeira mensalidade com o ordenado que tinha ganho no café onde estava empregado, mas quando chegou ao segundo mês e porque tinha de pagar o quarto não teve dinheiro para continuar o segundo mês e contou o caso ao Fernando, um promotor artístico. Este perguntou-lhe se era mesmo a sua paixão seguir a arte de representação. Pedro confessou que tinha vinda da província para ser actor ou cantor e o seu grande sonho era vir a ser uma grande vedeta e mostrar aos seus conterrâneos que contrariamente ao que eles diziam, não era só bonito mas também tinha valor e era alguém.
Fernando ouvi-o com toda a atenção e disse-lhe que tudo se arranjaria. Era uma questão de conversarem melhor e para tal convidou-o para jantar a fim de combinarem como o poderia ajudar.
Foram jantar a um dos melhores restaurantes da capital ode Fernando lhe contou ser um dos melhores empresários da capital e já tinha dado a mão a outros nas mesmas circunstâncias. Este ficou deslumbrado com as histórias que o outro lhe contou até porque os nomes mencionados eram de facto já vedetas do estrelado nacional, tanto como actores como cantores.
A meio do jantar entrou uma das vedetas que o Fernando tinha mencionado acompanhado por uma linda mulher, que passando por eles o vieram cumprimentar e foram apresentados ao Pedro.
Depois se se terem afastado para a sua mesa, em tom de surdina Fernando comentou:
- Como vês!.. Depois de se tornarem vedetas já tem dinheiro para vir a estes restaurantes acompanhados de boas mulheres.
Pedro olhou em volta e só nessa altura é que verificou o requinte do restaurante e perguntou:
- Achas que posso vir a fazer aquela figura?
- Está tudo nas tuas mãos. Se seguires as minhas recomendações e fizeres um contrato como teu manager, tudo é possível. É óbvio que tens de estudar bastante.
- Estou pronto a estudar e fazer alguns sacrifícios. Não sei é se o meu ordenado lá no café dá para tudo. Lá tenho as refeições pagas e dá-me para pagar o quarto. Não dá e para pagar os estudos.
- Mas isso não é problema. Se já tens as refeições, não passas fome, quanto ao quarto podes ficar em minha casa. Vivo sozinho, e enquanto não te arranjo trabalho numa novela ou para gravares um disco, lá em casa podes estudar e já poupas na despesa do quarto.
Aquela proposta para o Pedro era aliciante e este já se estava a imaginar uma vedeta nacional com a ajuda daquele amigo.
- Então que achas da minha proposta? – Perguntou o Fernando.- Se quiseres, podemos ainda hoje ir a minha casa para veres que não é nenhum casebre e amanhã pago a tua mensalidade lá na escola.
- E ficava já lá?
- Isso é contigo!
- Mas primeiro tenho que me despedir do quarto a arranjar a roupa.
- Mas isso também é contigo.
Pedro estava ainda mais hilariante com toda aquela oferta. Nem sonhava era em que é que se ia meter.
Depois de jantarem, meteram-se no carro e lá foram. A meio do caminho Pedro notando que o Fernando não lhe tinha perguntado onde morava e verificando que o caminho não era para sua casa, perguntou com toda a sua inocência:
- Mas vamos já para tua casa?
- Vou só mostrar-te onde moro – A mesmo tempo que lhe punha a mão na perna.
Pedro estremeceu um pouco:
Fernando notando, comentou:
- Estás com medo?
- Não!...
- Parece que estremeceste um pouco. Sou um tipo sério. O que está combinado está combinado.
- Não!.. Não é isso!... É que nunca me tinham posto a mão na perna.
Fernando, tipo sabido não se adiantou mais e depois de uns segundos de pausa e pensar que estava frente a um provinciano mas não parvo e que seria difícil levar a água ao seu moinho comentou:
- Mas já te disse que que só aceitas o meu convite se quiser. Só te vou mostrar onde moro e bebermos um café.
- Desculpa!.. Não fique chateado com a minha reacção. O que está combinado, está combinado.
Era o que o Fernando queria ouvir. Dali para a frente já sabia como iria tratar da questão.
Entretanto chegaram a casa. Subiram e entraram mudos como se nada tivesse acontecido e já fossem grandes amigos.
A casa do Fernando era uma casa toda moderna. Um grande holl de entrada com cinco portas que o Fernando não abrindo nenhuma delas só as indicava. Uma era a casa de banho das visitas, a outra da cozinha, uma outra ao lado, da casa de jantar. A quarta, de estrada para a suite e a quinta bastante grande com vidrinhos em quadrados translúcidos por onde entraram e que era o salão.
O salão era bastante grande com vários maples, sofás, mesinhas de apoio, lareira, um piano de cauda e um bar encastrado numa mas paredes.
Pedro olhando para a grandeza daquilo como nunca tinha isto comentou;
- Epá esta área é maior que a minha casa toda lá na província. Só falta a televisão.
- Não seja por isso. – Fernando carregou num comando que estava em cima do balção do Bar e numa das paredes desceu automaticamente um maravilhoso quadro de Malhoa “A Severa” e apareceu o Plasma que mais parecia uma tela de cinema. - pelo seu tamanho -.
- Pedro ficou deslumbrado com tudo aquilo. – Na sua mente já se via a morar naquela casa que para ele era um palácio.
Fernando que já estava traz do balcão do Bar recheado de garrafas e copos dos mais variados feitios perguntou:
- Queres um café com uma aguardente velha ou com um Whiskey?
- O que tu beberes – Pedro já o estava a tratar por tu -.
- Primeiro vou beber um whiskey. Tu queres com gelo, água castelo ou simples? Eu vou beber simples para não estragar a água. - e riu-se -
Ambos se riram com a dica, do “não estragar a água”
- Então! Gostas da casa? Como vês até tens piano para estudares as cantigas.
- Ma não sei tocar nada, Só campainhas de porta.
- E tocas bem?
- Quando era miúdo lá na terra a malta entretinha-se a tocar hás campainhas e depois fugíamos.
- E era essa aa malandrices que faziam? E uns com os outros não faziam nada?
- Diziam que havia um que fazia umas coisas, mas eu nunca fiz nada.
- E porque não?
- Uma vez vi dois a beijarem-se e a baterem umas punhetas.
- E tu nunca o fizeste?
- Só uma vez é que fizemos umas punhetas para ver quem se esporava mais longe.
- E tu ganhaste alguma vez?
- Epá… Eram brincadeiras de crianças. Isso agora não interessa nada.
- Quer dize que agora que já és crescido não o fazias…
- Não sejas parvo. Agora só fodo e uma ou outra vez quando estou aflito.
- E sozinho ou a dois?
- Epá!... Já estivemos a falar melhor.
- Mas tens namorada?
- Cá em lisboa ainda não arranjei nenhuma.
- Quer dizer que bastas-te sozinho!...
- Epá!.. Isso agora não interessa nada.
- Desculpa mas era só para saber. Mas também digo. “Agora não interessa nada. Como diz a outra” De qualquer das formas deves andar cheio de rebarba. Qualquer dia estás virgem.
Ambos se riram e voltaram a botar mais uns whiskies nos copos.
Quem já estava cheio de rebarba era o Fernando, mas não se queria adiantar mais, Já sabia tudo sobre o puto do que queria saber. E com a experiência que tinha daquelas coisas para não o perder, achou por bem não adiantar mais a conversa sobre a vida sexual do amigo, pois iria estragar tudo.
- Esta conversa está muito animada mas amanhã é Sexta-feira entro ao serviço às oito horas da manhã e não quero chegar tarde se não o patrão manda-me embora. No sábado estou de folga e no Domingo o café está fechado portanto o melhor é não abusar.
- Quer dizer que Sábado e Domingo não trabalham? És um sortudo com dois dias de folga.
- É verdade. Um dia é a minha folga e o outro é porque á assim mesmo
- Então podes mudar-te para cá na sexta à noite? Sempre queres? Ou queres pensar melhor?
- Se me ensinares a tocar piano, venho! – Respondeu o Pedro ao mesmo tempo que se ria
- Se te predispuseres a aprenderes outras coisas, tens uma casa aberta. E amanhã pago lá na escola a tua mensalidade. Queres ou não?
- Sou bom aluno e já disse que estou pronto para tudo. Já vi que és um tipo porreiro e de confiança.
Fernando adivinhando que ia ter ali um amigo durante algum tempo, não só porque seria fácil molda-lo a seu jeito e com muito boa apresentação para o acompanhar e ainda por cima virgem, com um grande sorriso e quase a beijá-los comentou em ar de graça.
- Ainda vamos bater umas punhetas. Bem agora vou levar-te a casa e encontramo-nos na escola amanhã à noite.
- Essa de me ires levar a casa agradeço agora essa de batermos umas punhetas é que não sei!... Eu nem sequer beijo ou beijei um gajo…
Ambos se riram. Acabaram com a bebida e Fernando foi levar o Pedro a Casa.
Fim do 1 Capitulo
Para ler o que se passou a seguir clique (2 Capitulo)
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Qualquer semelhança com factos reais é mera coincidência, ou não! O geral ultrapassa a ficção
Nelson Camacho D’Magoito
“Contos ao sabor da imaginação” (257)
Para maiores de 18 anos
© Nelson Camacho
2014 (ao abrigo do código do direito de autor)
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