Nós e o resto do mundo lá fora
I.º Capitulo
Naquele sábado deambulava pelas ruas de Lisboa. Tinha saído de casa depois de uma acesa discussão com minha mulher. Já nada era como antigamente, o clik que há oito anos nos tinha juntado numa festa de romaria a pouco e pouco estava a acabar. Não era a falta de dinheiro para a nossa confortável sobrevivência ou a falta de um filho que já o tínhamos feito mas um desconforto geral em que por esta ou outra razão principalmente quando abria o meu caixote de recordações vinha à memórias os tempos livres de preconceitos e carinhos que tinha tido de tanta gente. Poder-se-ia dizer que durante aqueles cinco anos não tivesse recebidos carinhos e afectos da minha mulher, mas faltava qualquer coisa que ambos não entendíamos.
A quando das promessas de amor antes do casamento estas foram muitas. Ela dizia ser a mulher para toda a vida e eu dizia que não era bem a mulher para toda a vida que queria mas a mulher amiga e amante.
A parte de amiga porque nada havia para contrariar esse estádio tudo corria bem. A parte de amante, talvez por ter sido educado à maneira antiga olhava para ela como progenitora de um filho que adorava ter quanto ao resto e porque tinha até então levado uma vida descomplexada e experimentado sexualmente tudo o que a vida me tinha proporcionado, de vez em quando vinha à minha memória os amores e desamores por onde tinha passado durante anos, sentia-me desconfortável e não me sentia livre.
Livre de tomar uns copos nas noites de Lisboa com uma roda de amigos e ir ao engate de uma nova garina que se me deparava pela frente onde com ela as minhas necessidades sexuais eram satisfeitas em toda a sua plenitude.
Quando encontrei um emprego como director passei a ter o tal tempo livre e chegar tarde a casa ou a ausentar-me em serviço dias seguidos.
Nessas viagens de negócios e porque tinha tempo, comecei por conhecer mulheres com quem dormia e de algumas me tornei amante.
Quando chagava a casa, a coisa melhorava principalmente a quando do acto, a minha mente voava até às noites passadas com as amantes mas por uma questão de pudor não conseguia dar-me a satisfação total. Pensava eu que mulher é a mulher dos meus filhos e as outras eram a outras.
A minha vida começou a ser um inferno e mais ainda quando os colegas dela que me viam no carro com outras mulheres lhe iam dizer. Então era o fim da macacada.
- Com quem estiveste esta tarde? Um colega meu viu-te com uma loira no carro.
Às primeiras vezes desculpava-me ser com uma colega em serviço, mas quando a coisa se repetia pois os invejosos e maricas dos colegas lhe azoinava os ouvidos que me tinham visto aqui e ali sempre acompanhado a coisa foi piorando.
Numas férias fomos até Palma de Maiorca e a certa altura ele disse-me ao ouvido:
- Estes gajos não têm vergonha nenhuma. Já viste como eles vão de mãos dadas?
- Quem? Perguntei eu!
- Aqueles tipos ali, ao lado.
Eu olhei disfarçadamente e lá iam dois rapazes que aparentavam os vinte cinco anos, de mãos dadas falando baixinho ao ouvido um do outro e rindo-se – talvez contando anedotas e estando-se nas tintas para o resto do mundo lá fora – transbordavam felicidade como raramente se vê em casais hetro. Se estavam a fazer uma viagem normal ou em inicio de férias como nós, era lá com eles. Não tinha nada com a vida deles.
Fiquei admirado pelo reparo da Helena e só lhe disse.
- Mas qual é o teu problema? Estão-te a ofender?
- Não! Mas não posso quem este tipo de gente!
- Desculpa lá mas isso é homofobia! Não sabia que eras preconceituosa ao ponto de reparares nessas coisas! Certamente não te choca tanto veres dois homens empunhando armas e matando crianças.
- Não sejas parvo! Não é a mesma coisa!
- Ah pois não! Uns matam e os outros gozam a vida a seu belo prazer.
A conversa ficou por ali, mas fiquei a saber que ela era contra este tipo de relações.
Entretanto, pelo caminho mudámos e de avião, Tínhamos viajado pela TAP e nunca mais os vimos. Ou tinham mudado de destino ou tinham ficado por ali.
Quando aterrámos em Palma, já tinha um carro da Avis que tinha pré alugado em Lisboa à nossa espera. Tratamos das malas, marquei no GPS o local do Hotel e lá fomos por ruas e vielas. A Helena ligou o rádio do carro, procurou várias estações e era tudo música espanhola. Contrariamente à nossas rádios, nem uma musica inglesa ou portuguesa, logo ali se via e diferença de culturas. Em Portugal é raro ouvir-se música portuguesa e em Espanha, só se ouvia música espanhola.
Quando chegámos ao quarto do hotel e depois de arrumar as malas fomos dar uma volta como é meu hábito para reconhecimento do local onde nos encontrávamos. Aproveita-mos para jantar e como em Espanha sê espanhol, jantamos numa esplanada umas gambas na chapa, demos mais uma volta e fomos para a caminha.
No dia seguinte, levantámo-nos já um pouco tarde e fomos até à varanda. Quem estava na varanda ao lado? Os dois colegas de viagem já em fato de banho. Um deles virou-se para mim:
- Vocês desculpem. Estão a perder tempo. Já fomos à praia e a água está um caldo.
A Helena observando a conversa, aproximando-se de mim pelas costas agarrou-me pela cintura e segredou-me ao ouvido: - Só me faltava esta!
A cena passou, assim como as férias iam também passando até que uma noite nos encontramos novamente numa sala de espectáculos de sevilhanas e orquestra para dançarmos. Por foça do destino os moços estavam numa mesa ao lado da nossa o que ocasionou uma amena cavaqueira.
Sendo os rapazes normais como quaisquer outros sem tiques ou aspectos efeminados a Helena como pessoa educada alinhou toda a noite ma conversa de circunstancia nunca falando das suas tendências sexuais. Pelo meio da noite ainda mais nos rimos quando convidei a minha mulher para dançar e ela recuou dizendo que eu sendo um bom bailarino o que queria era exibir-me. Os rapazes riram-se com o facto e dando as mãos disseram.
- Pois nós não vamos dançar porque não é o lugar próprio, embora estejamos nas tintas para os outros não queremos arranjar chatices.
A noite foi bastante agradável até que chegou ao fim e cada casal foi à sua vida sem um deles discretamente meter algo na algibeira do meu casaco.
- Afinal os rapazes eram simpáticos! – Disse a Helena sem ter dado pelo facto.
- Pois! É para que vejas que os gays são pessoas normais como quaisquer outros.
A conversa ficou por ali e nunca mais se falou naquele par de namorados. E fomos para o hotel.
No entanto:
Naquela noite quando chegámos ao hotel, curioso meti-me na casa de banho e fui ver o que tinha entrado na minha algibeira. Era um cartão-de-visita, em nome de João Paulo onde estava escrito (Em Lisboa, procura-me no trumps clube a uma sexta-feira. Mas se quiseres telefona-me antes) e lá estava um número de telefone. Fiquei assustado e escondi o cartão muito bem escondido entre as minhas coisas no saco toalet.
As férias acabaram e voltamos para Lisboa. Para a nossa vidinha da treta.
II.º Capitulo
A deambulação pelas ruas de Lisboa estava a chegar a noite e não me apetecia voltar para casa. Aquela discussão já não era a primeira vez. Eu cada vez mais queria voltar a ao antigamente. Ser livre e dono de mim mesmo, sem as grilhetas do casamento e sem dar por isso os meus passos, pois andava a pé - Tinha arrumado o carro no Rossio - subi o chiado e fui parar ao bairro alto. Eram já horas de jantar e nem me lembrei de telefonar para casa. Percorri todo o bairro cheio de gente nova e alegre uns e outros de copo ou garrafa de cerveja na mão, cantando e até alguns dançando. As tascas estavam cheias e ainda eram nove horas da noite. Ia pela rua da Barroca quando parei junto a uma casa de fados que lá de dentro vinha o som de uma guitarrada, como já há muito não ouvia. Parei, olhei para o letreiro, era o Faia uma das casas de fados mais emblemática e antiga da cidade e resolvi entrar.
Para o incrível que parecesse o porteiro era antigo e reconheceu-me
- Então amigo! Há muito que não o via por cá.
- É verdade! Esta noite resolvi dar uma folga à mulher.
- Mas casaste?
- É verdade e já lá vão oito anos.
- E andas só? Tá visto que ouve borrasca na capoeira e o galo pirou-se!
- É a vida! Hoje deu-me na mona para dar largas ao meu ego!
- Entra pá! Ainda vais cantar um fadinho.
- Não sei! O casamento fez-me afastar-me de tudo e todos e certamente já nem voz tenho, mas ouvir uns fados e comer um jantarinho, lá isso estou aqui para as curvas.
Entrei!
Já há uns anos que ali não entrava. A tasca de fados da Lucília do Carmo que até as paredes transpiravam fados já não era. Talvez seja eu que não acompanhei os tempos das modernices arquitectónicas e das gentes que nada têm a ver com o Fado, tenham alterado as catedrais do Fado do tempo do Armandinho, Fernando Maurício, Ada de Castro e de Alfredo Marceneiro, o senhor que um dia achando haver muita luz na sala mandou colocar velas nas garrafas e toda a gente se calasse, virando assim, a moda de se ouvir o fado em silêncio e à luz de velas acesas no meio das mesas.
Naquele tempo quando se ouvia o fado era como se estivéssemos numa igreja ouvindo uma prece.
Dizia-se até que cantar o fado hera rezar duas vezes.
O ambiente está bonito, glamoroso, lembrando-me os salões da Baviera. Cores abrasileiradas, copos de cristal e serviço de champanhe.
Para onde foram os canecos e restante loiça de barro? Onde está o tipismo das gentes do fado? Onde estão as nossas raízes? Numa estatueta!?. Onde está a tasca típica da nossa Lisboa. Até parece que querem que o Fado volte aos salões da aristocracia onde em tempos até foi espezinhado.
Hoje já não há catedrais do fado. Tudo a favor do consumismo estrangeiro que paga por um jantar e quatro fados cento e tal euros.
O Faia que chegou e desde 1947 a ser considerada a catedral do fado pelas mãos de Lucília do Carmo e mais tarde por seu filho Carlos do Carmo hoje não é mais uma casa mundana e com preços inacessíveis a qualquer amante do fado mas sim uma casa para belo prazer de senhores ministeriais onde a meio de um jantar e um fado, conjecturam formas de enriquecimento mais rápido.
Lá a um canto, ainda estavam as relíquias Anita Guerreiro e António Rocha que já não via há bastante tempo.
Foi bom recordar velhos tempos e principalmente ser ainda reconhecido por alguns camaradas do velho fado.
Entre fados, guitarradas e alguma conversa de ocasião com colegas antigos e jovens promissores do fado a noite foi-se passando. Estava a reviver velhos tempos sem preocupações e num ambiente onde tinha vivido e fui feliz.
Já eram cinco da matina, satisfeito e bem bebido quando me lembrei que nem tinha telefonado para casa. Despedi-me e quando chegou a conta fizeram-me um desconto com a promessa de voltar e cantar um fado.
Desci até ao Rossio onde tinha deixado o carro e fui para completar a noite até ao café da ribeira para tomar o pequeno-almoço. Lá longe já se vislumbrava o amanhecer. Aquela manhã já não era a de antigamente com os eléctricos apinhados de varinas que já não havia e trabalhadores de lancheira com o almoço, pois também já não haviam operários. Agora são todos doutores, informáticos e da comunicação sócias e desempregados na sua maioria.
Morrem de fome, vendem os carros e os apartamentos, voltam para casa do pais, mas trabalhar no duro como eu já o fiz, são coisas de outros tempos. Dizem eles!
Cheguei a casa, eram para ai umas dez horas da manhã e Helena e o puto, nem velos. Simplesmente um bilhete em que dizia (Das duas uma, ou vais para onde estiveste ou tens juízo. Estou em casa de minha Mãe.)
Eu tinha passado uma noite tão agradável que nem liguei, Fui tomar um duche e deitar-me.
Quando acordei já era noite novamente e mulher e filho nem velos.
Fui desfazer a barba e encontrei na saca de toilet o tal cartão que o João Paulo me tinha metido no bolso do casaco em Espanha. Li, reli, reli novamente e pensei: E agora o que é que faço? Telefono? Não telefono? Era domingo, a mulher e o filho estavam na sogra e eu sem pachorra para lhes dar quaisquer satisfações.
Pois! Agora se você quer saber o resto da história, se telefonei para aquele novo amigo ou fui até à minha sogra, se tem mais de 18 anos e é bisbilhoteiro clik (AUI)
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