Na Praia Grande conheci uma moça simpática e atraente
Afinal ele tinha outro!
Normalmente, sou um tipo pacato. Não sou muito ligado às coisas que me rodeiam, vivo sozinho, faço a acama, lavo a loiça e a roupa, faço as minhas alimentações e até por vezes faço uns banquetes para os parcos amigos que tenho.
Quando alguém fica em minha casa gosto de lhe fazer o pequeno-almoço e levá-lo à cama (são coisas de quem vive só).
Os amigos que tenho, gerem-se na vida pelos mesmos parâmetros. Gostam de estar em pequenos grupos, e quando nas festas alguém se afasta é para continuarem em grupo, mas a dois.
Todo este preâmbulo para dizer que nos meus tempos de ócio, os tenho só, bebendo uma bica e lendo um jornal em qualquer café, preferencialmente à beira mar onde as ondas do mesmo me dão um alívio de alma espiritual para combater as agruras da vida que são muitas. Foi na esplanada de um hotel frente ao mar na Praia Grande um dia conheci uma moça simpática e atraente me pediu lume para acender o cigarro. Também estava só na mesa ao lado. Vestia uma T-shirt rosa e uma saia tipo mini pelo qual se podia vislumbrar umas pernas bem torneadas. Não era uma rapariga totalmente atraente mas simpática no todo da sua aparência.
Olhando melhor, verifiquei que acendia cigarro no próprio cigarro, um a traz do outro o que me deixou um pouco perplexo, pois só tinha visto estas situações em homens e principalmente com alguns problemas psicológicos. Matutei, matutei, pensei, pensei, o que se passará com a moça? Não sendo meu hábito meter conversa com a primeira “ galinha “ que se me depara pela frente, tirei-me dos meus caprichos e aí estou eu a meter conversa com a dita. Aproveitando o facto de existirem os tais anúncios contra o tabagismo nos maços de tabaco, disse-lhe assim, à laia de chofre:
- Desculpe amiga (foi um tratamento à laia de alentejano) você já leu bem o que diz no seu maço de tabaco? -“Fumar prejudica gravemente a saúde!” –
Ela olhou para mim, e num ar triste respondeu:
- Há coisas na vida que matam mais depressa amigo.
Foi o início de uma conversa muito interessante principalmente para mim, que já deixei de ter pachorra para aturar “ galinhas “.
Nesta conversa em que não quis ser o galo da capoeira, deixei-a falar o que valeu que mais tarde, passou a ser uma grande amizade.
O contexto da conversa é que foi deveras interessante. Ela estava para ali a curtir não uma dor de corno, mas um sentimento que não sabia se era de culpa sua ou não. A história resume-se em poucas linhas:
“A Idália, é assim que ela se chama, estava para casar e não casou.
Namorou durante dois anos um rapaz bem-apessoado, filho de boas famílias e de um extracto social bastante invejável, nunca quis ter relações com ele enquanto namorados pois queria dar-lhe como presente a sua virgindade.
Passearam juntos durante aqueles dois anos inclusive por Portugal inteiro e estrangeiro, mas quando chegavam aos hotéis ficavam sempre em quartos separados, era ponto assente da parte dela a tal prende da virgindade para a noite de casamento, pela parte dele também nunca fez pressão para que outra situação acontecesse, portanto, estavam os dois de acordo, aparentemente.
Ela por boa-fé, nunca pensou como era possível um rapaz de vinte anos não querer ter relações inclusive, nem com qualquer outra rapariga o que seria natural. (Ela das duas uma, ou era cega ou gostava de facto muito dele, e gostava!).
Um dia, chegaram à conclusão e depois de conferenciaram com os respectivos pais como mandam os ‘canhenhos’, resolveram marcar o casamento.
Para tal era necessário uma casa e como os pais dele tinham posses, compraram uma casa e começaram a mobila-la.
Ora vai um, ora vai outro lá a casa colocar mais um apetrecho para o lar dos pombinhos. Marcaram a data do casamento e a boda toda raffiné, numa quinta dedicada ao Jet-Set. Fizeram os convites em conjunto, marcaram o fotógrafo e o câmara-men para as filmagens. Estava tudo pronto para o dia aprazado.
Na véspera do casamento e porque faltava arranjar a cama para a noite de núpcias, ai vai ela com a mãe ao seu ninho de amor. Abrem a porta, entram para o salão, a mãe de colcha embrulhada ao regaço, (a mesma que lhe tinha servido a si na sua noite maravilhosa), e ela com uma moldura com a fotografia do seu futuro mais que tudo marido.
Estão na sala ainda em amena cavaqueira falando do casamento, quando dos fundos ouvem umas vozes estranhas.
-Ai que nos estão a roubar, disseram.
A Mãe, mais afoita, antes de correram casa fora, ainda pega num candelabro e lá vão as duas direitas ao local de onde vinham as vozes estranhas. Abriram a porta do quarto, e na cama, estava o seu noivo com um primo (atenção que era um primo, não uma prima) em pleno acto sexual. Inebriados pelo amor com que estavam, só descobriam que tinham sido apanhados quando a Idália começou aos gritos e a mãe desmaiou.
Afinal ele tinha outro! E ainda por cima o primo dela.”
Depois deste relato, fiquei a perceber porque ela fumava um cigarro após outro. Coitada da moça, estava de rastos, de tal forma e porque me achou simpático, logo no primeiro encontro casual, contou-me todos estes seus azares.
Eu por mim, agora digo como o brasileiro, de facto; “ Tem Pai que é sego “.
Ficámos amigos e hoje é uma das minhas melhores amigas no entanto, ainda não está em condições psicológicas de arranjar um novo namorado.
Por vezes saímos à noite a um bar ou cinema até já a levei ao Finalmente, um bar gay, para ver que são pessoas normais, somente a sua tendência sexual é que é diferente da nossa, e até os há casados e até com filhos.
Se ela tivesse chegado a casar até podia ser que fossem felizes.
Idália ainda está è espera de um milagre.
É que hoje é difícil para uma mulher arranjar um homem atraente e que esteja bem na vida, pois os livres, são casados ou são Gays.
Fim
Qualquer semelhança com factos reais é mera coincidência, ou não! O geral ultrapassa a ficção
Nelson Camacho D’Magoito
“Contos ao sabor da imaginação” (316)
Para maiores de 18 anos
© Nelson Camacho
2017 (ao abrigo do código do direito de autor)
. Sai do armário e mãe pede...
. Depois de "All-American B...
. Crónica de um louco senti...
. “Porque razão é preciso t...