Não tenho a culpa, mas sou assim mesmo. Meio despassarado. Ainda não aderi totalmente às novas tecnologias ou seja, essa coisa dos Tabletes, telefones e computadores portáteis ainda não entraram no meu modo de viver. Quanto aos telefones portáteis, tenho dois dos antigos, sem complicações pois servem única e simplesmente para o fim para que foram inventados. Com isto tudo já que escrevo umas coisas como faço quando me saltam ideias à mona? É fácil… Ainda uso um pequeno gravador onde debito as ideias quando vou a conduzir ou um livrinho de apontamentos onde vou escrevendo essas ideias. Como é óbvio, quando chego ao meu canto de escrita oiço o que gravei e leio o que escrevi e então passo para o meu “monstro do computador” que também é antigo e de torre.
Tinha passado um fim-de-semana bastante agradável em conjunto com uma série de amigas e amigos em casa de uma delas onde fizemos uns churrascos acompanhado de bom vinho, afagos e beijinhos. Tudo foi bom, menos os beijinhos pois eu era o único que não tinha namorada ou namorado. Todos os outros estavam acasalados. Ao fim da tarde de Domingo foi a debandada e cada um lá segui-o o seu caminho.
Quando cheguei a casa, veio a solidão! Não a solidão que muita gente apregoa do estar só entre “quatro paredes” pois há muita gente que está só mesmo rodeado de familiares e amigos. Naquela noite senti uma solidão das mais estranhas. Depois de um duche bastante reconfortável fui até ao quarto e quando olhei para a cama onde me iria deitar, esta estava só. A cama estava feita com lençóis de seda que tinha feito na sexta-feira e um peluche que um dia alguém tinha deixado quando partiu mas estava vazia como diz o fado do Tony de Matos “Lugar vazio”.
Coloquei na aparelhagem o novo CD do FF “Saffra” Uma obra-prima de poemas e voz. Acabei por adormecer!..
Ai pelas sete da manhã, acordei ao som de uma bátega de água que batia fortemente na janela do quarto. Levantei-me e fui até ao quintal. Tinha ao que parecia, acabado definitivamente o verão. Ainda estava lusco-fusco e os relâmpagos vindos do céu sem estrelas viam-se ao longe. Era uma cena fantasmagórica que metia medo. Fechei a porta para não entrar água e fui preparar o pequeno-almoço (Uns ovos mexidos e uma fatias de presunto e o sumo natural de duas laranjas com duas pedras de gelo) Dizem que não se deve tomar banho a seguir às refeições mas como sou do contra, fui tomar o duche matinal depois de fazer a cama – sabemos sempre como saímos de casa mas nunca sabemos como ou com quem voltamos e pelo menos o quarto deve estar sempre pronto a uma aventura -.
Nos entre tantos já tinha passado duas horas e o São Pedro que é nosso amigo parou com a sua má disposição e alterou o tempo. Já não chovia. O céu estava resplandecente de brilho, as nuvens que já tinham vertido toda a sua água deixava entrar o sol forte e limpo.
E agora o que faço com este dia espectacular? Pensei.
Vesti uns calções uma t-shirt de alças e agarrei no saco de praia e fui de abalada com a ideia de ir tomar uma banhoca e dar umas corridas no areal da Praia Grande.
Quando lá cheguei, na praia propriamente dito, não estava ninguém. Todos se tinham assustado com o temporal da noite. Eu também fiz o mesmo e fiquei-me pela esplanada do hotel. Entretanto já eram treze horas da tarde e alguns veraneantes que certamente tinham saído de casa cedo já estavam almoçando.
Normalmente o meu almoço é sempre depois das catorze e como sou um pouco diferente de muita gente, também como aperitivo em vez do Vermute habitual bebo sempre um Porto. Foi o que aconteceu. Mandei vir um Porto e estiracei-me num cadeirão bebericando enquanto ia germinando mais uma história procurando em minha mente as personagens certas para a trama. As luzes na minha mente com a ajuda dos raios solares lá iam surgindo. Como não sou muito de fixar na memória as história que vou engendrando peguei no gravador e lá fui debitando as ideias que iam surgindo ao mesmo tempo que ia bebericando o meu Porto.
Quem me visse um pouco ao longe diria – Lá está mais um maluquinho falando sozinho – pois falar para um gravador não é o mesmo que estar ao telemóvel.
O tempo foi passando, bebi mais outro Porto e acabei por pedir uma salada com peito de vitela (é uma salada de legumes e dois nacos de lombos de vitela grelhadas) para a dieta que ando a fazer. Era a ideal acompanhada de um Vinho Branco de Reserva de Reguengos, bem fresquinho.
Ao que parece, não é muito hábito este tipo de comida por um português e digo isto porque despertou a atenção de alguns veraneantes que estavam saboreando uns, “cozido à portuguesa” e outras “Feijoada”. O único de degenerava dos outros, era um moçoilo de porte atlético de cabelos desgrenhados e loiros comendo um “prego” acompanhado de muitas batatas fritas. Ou seja, estava a trabalhar para o colesterol. Creio não ser o seu desejo final pois em cima da cadeira ao lado tinha um fato de surfista e uma prancha de surf. Devia estar à espera das tais ondas que eles tanto gostam ou de algum amigo. Sem saber bem o porquê, de vez em quando trocávamos olhares.
O tempo passou até chegar a tarde que se adivinhava húmida e sem graça. Surfistas, nem vê-los.
Alguns transeuntes no passadiço lá iam, uns correndo outros calmamente iam-se passeando.
Resolvi ir embora pois o São Pedro começava a espirrar algumas gotas de água que iam salpicando o areal e se ia enchendo de buraquinhos como quem diz – Acabou a praia por hoje -.
Peguei na chave do carro, no gravador, no maço de cigarros e fui-me embora. Em cima da mesa ficou a revista Volante que era do café.
Já estava em casa e depois de ter preparado o jantar e ter tomado um belo duche e pronto para a janta frente à televisão para ver a Novela “O Beijo do Escorpião”. Estava como é meu hábito em calções e de tronco nu quando tocaram à campainha. Fui até à janela ver se conseguia ver quem seria aquela hora mas nada vi a não ser um carro ainda com as luzes acesas frente à minha porta, Desci as escadas e abri a porta. Deparei-me com o tal loirinho que tinha visto na praia e que tínhamos trocado olhares. Fiquei banzado! Como era possível?
- É o Sr. Nelson?
- Sou!.. E você?
- Sou o Jorge!.. o moço que esteve na esplanada da Praia Grande hoje à tarde.
- E então? Como me descobriu e a que vem?
- Você deixou por baixo da revista Turbo o seu livro de apontamentos e como tinha lá a sua morada e também mora aqui perto antes de ir para casa jantar, vim traze-lo, pois certamente lhe vai fazer falta.
Efectivamente na contracapa de todos os meus livros de apontamentos tem escrito em memória de meu pai que fazia o mesmo “Se este livro for achado e porque só a mim me interessa entregue-o em; ( e lá estava a minha morada)”
- Foi muito simpático da sua parte e muito obrigado, pois são os apontamentos com algumas dicas que me vou lembrando para mais tarde utilizar nas minhas escritas.
- Você vai-me desculpar mas foram essas dicas que estive a ler e fez-me vir traze-lo. Ao que li, você é escritor e tem lá coisas bastante interessantes. Algumas sobre temas que me interessa bastante.
- Efectivamente, tenho vários blogues onde escrevo umas coisas, sendo o principal “O canto do Nelson”. Mas estamos aqui a conversar à porta e você ainda não jantou. Não quer entrar? O jantar é simples mas ainda dá para mais um.
- Não vou dizer que não! Vou só fechar o carro e telefonar para casa a dizer que vou mais tarde.
Posto isto, o Jorge entrou. Encaminhei-o até à sala, servi-lhe um Porto como aperitivo e fui colocar mais um talher na mesa.
- Sabe? Na esplanada verifiquei que em vez do Vermute habitual de toda a gente, você também utilizou o Porto. É algum fetiche?
- Não… Não tenho fetiches, simplesmente gostos diferentes da maioria das pessoas. Por exemplo você gosta de Surf e não é um fetiche. É uma forma de estar na vida bastante saudável. Para mim o vinho também é bastante saudável quando vem directamente da natureza e ainda por cima é nosso.
- Tem toda a razão!.. É por isso que vai até à praia em busca de ideias para as suas escritas?
- Sabe… Não fiz nem nunca irei fazer Surf mas gosto do desporto e como uma amiga diz “também serve para limpar a vista”. Por vezes de uma maneira ou de outra, conheço rapaziada livre de preconceitos com quem faço amizades. Veja o nosso caso.
- Você ainda vai fazer Surf comigo e vai ver que gosta. Por mim vou passar a gostar mais do tipo de escrita que faz, pois são realidades e você vai passar a gostar de praticar Surfe.
- Vamos ver… Vamos ver…
- E quanto à novela “O beijo do Escorpião” o que me diz?
- Gosto principalmente porque tem vária tramas que são realidades e bons desempenhos dos actores e até versa o tema de homossexualidade de uma maneira bastante condigna mostrando realidades que sabemos existirem mas que muita gente não que acreditar ou não aceita. Já a novela “Sol de Inverno” também foca outro caso de homossexualidade tratando a adopção e os resultados que um dia podem dar quando feito por casais de gays.
- Por acaso também gosto do Beijo do Escorpião por essa mesma razão. Posso confessar que já tive um caso idêntico, mas não chegou ao casamento, mas as situações com a família foram idêntica.
- Já vi que nesse caso estamos de acordo. Hoje o seu amigo não chegou e esteve só na praia e nem chegou a ir ao mar.
- Sim! Tenho um amigo e ontem chateamo-nos e hoje não apareceu.
- E já dura há bastante tempo?
- Há coisa de um ano mas a família dele nada sabe e é um problema.
- E a sua?
- Vivo só com minha mãe e ela é uma mulher bastante aberta para as realidades, sabe das minhas tendências e só me diz para ter cuidado e não andar com putos. Que procure uma pessoa mais velha e com experiência de vida e situação estabilizada.
- Estou a ver!..
- Está a ver porque trocamos olhares esta tarde na praia?
- Não me diga que sentiu borboletas na barriga?
- Não!.. Achei que você tinha algo de especial e depois de ler os seus apontamentos em vez de deitar o livro fora tentei encontrar a minha sorte.
- E acha que encontrou?
Na altura deste diálogo já tínhamos acabado a refeição. Já tinha começado a novela e já tínhamos com os braços esticados em cima da mesa, colocado as mãos em cima umas das outras.
- Queres café? – Perguntei.
- Sim… já agora…..
Segurei-lhe numa das mãos e encaminhei-o até ao escritório. Que é o meu “Canto de escrita” onde tenho a máquina de café. Liguei a outra televisão para continuar a ver a telenovela, tirei duas bicas, enchi dois copos de Whisky e sentamo-nos no sofá já sem dizer mais nada.
A novela acabou, veio a maldita da publicidade. Com o comando desliguei a televisão, olhamo-nos olhos nos olhos durante uns segundos e fui eu que senti as tais borboletas na barriga e nos beijamos sofregamente.
Aquele beijo foi algo de especial. Tão especial que se tornou numa química tão contundente que nos levantámos e começámos por tirar as t-shirts. O resto foi ficando pelo caminho até ao quarto e deitamo-nos no ninho do amor onde tudo aconteceu até adormecermos cansados mas felizes. Tinha acontecido poesia sexual.
Adormecemos ao som do belo poema “Saffra deste ano” na voz inconfundível de FF – Fernando Fernandes.
- Clique aqui para ver o video -
http://www.youtube.com/watch?v=T62T9RNHoWE
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Qualquer semelhança com factos reais é mera coincidência, ou não! O geral ultrapassa a ficção
Nelson Camacho D’Magoito
“Contos ao sabor da imaginação”
Para maiores de 18 anos
© Nelson Camacho
2014 (ao abrigo do código do direito de autor)
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