Um amigo colorido
Ao reiniciar os meus textos sobre o tema homoerótico apeteceu-me não escrever uma história entre dois homens que se prostituem mas uma que ouvi no hospital – devidamente faccionada - onde estive internado durante cinco meses com problemas do coração. Espero que gostem.
Sendo assim, vamos ao que interessa:
Tenho um amigo que por questões familiares pediu-me se podia ficar em minha casa, durante uns dias até resolver a situação de habitação. Como aos amigos servem para as ocasiões e não estando muito interessado em saber ao que se tinha passado mas sabendo ser um tipo honesto de imediato, disponibilizei-lhe um sofá na sala para dormir e o resto da casa como se fosse sua. Anda lhe entreguei uma cópia da chave de casa para o caso de querer sair, poi durante o dia não estaria pois tinha de ir para o meu trabalho.
À noite quando voltei o meu amigo Jorge já tinha saído e comprado umas costeletas de vitela e feito batatas fritas que logo me cheiraram ao abrir da porta. A mesa já estava posta com uma Garrafa de vinho Banco de Reserva de Reguengos de Monsaraz metida num Frapé cheio de gelo.
Jorge tinha tomada à letra quando lhe disse para fazer de sua a minha casa. Não só tinha preparado uma bela refeição como andava movimentando-se de bermudas, chinelos e t-shirt.
- Desculpa o meu atrevimento. Mas como disseste para estar à vontade. Fiquei à vontadinha.
- Mas está tudo bem. Há muito que não tinha alguém cá em casa fazendo-me uma refeição.
- E gostas-te?
- Normalmente sou sempre eu que faço o petisco.
- E a malta só come!....
. Se queres que te diga nem a loiça lavam.
- Porque não vais tomar um duche? Eu por mim já estou fresquinho. Só falta colocar a comida na mesa.
- Poa acaso não vais acender também uma velas??????????? – Comentei em grandes gargalhadas enquanto me dirigia para chuveiro.
Quando voltei para não fazer má figura com o meu convidado, também vesti umas bermudas, chinelos e uma t-shirt de alças.
Quando entrei na sala de jantar fiquei meio parvo pois o Jorge tinha procurado umas velas e lá estavam elas em dois castiçais no meio da mesa.
- Agora não me tornes a desafiar seja com o que for, que levas logo a resposta.
Efetivamente quando me desloquei para o duche tinha dito aquela graça das velas e ali a estava resposta.
Embora o Jorge seja um amigo de há uns anos a esta parte, nunca tínhamos entrado em pormenores do seu foro privado. Sabia que vivia com os pais e estava no último ano de comunicação social e já fazia uns trabalhos para televisões de onde nos conhecíamos e nada mais.
Depois de uma conversas triviais, chegou o memento de ele contar o que se tinha passado com os pais ao ponto de ter saído de casa.
Na sua prova final de curso tinham-lhe dado para fazer uma reportagem sobre o Movimento Gay que a comunidade GLBT se preparava para fazer na avenida da Liberdade com o apoio da Camara Municipal de Lisboa.
Os pais ao saberem a temática da reportagem, logo se insurgiram e demonstraram pertencerem a uma sociedade repressora, coercitiva e preconceituosa.
- Pronto! Lá vão os maricas todos descerem a avenida, travestidos e outros vestidos com roupas íntimas servindo de graça a uma opção que não tem graça alguma.
- Mas pai!.. É uma forma destes movimentos se insurgirem contra a homofobia e tudo o que ela representa. Acredito que este é uns dos caminhos para c conscientização do género e não reforçar estereótipos que não chegam a nada.
Minha Mãe também se meteu na conversa e foi ao ponto de dizer se soubesse que eu fazia parte dessa ceita, já que andava no meio deles nas televisões, logo arranjaria maneira de me por na rua.
Perante todos estes desaforos de meus pais, quando acabamos de jantar, subi para o quarto meti meia dúzia de roupas num saco e escrevi-lhes uma carta, informando-os que não era homofóbico nem tão preconceituoso como eles e como já sentia atracão por um amigo embora nunca lho tenha dito, antes da descoberta e para que não me ponham na rua, saio pelo meu próprio pé e esqueçam-se deste filho que vos adora mas que não se importa de ser diferente.
Qualquer semelhança com factos reais é mera coincidência, ou não! O geral ultrapassa a ficção
Nelson Camacho D’Magoito
“Contos ao sabor da imaginação” (309)
Para maiores de 18 anos
© Nelson Camacho
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